sábado, 10 de novembro de 2007

Querido papai Noel,

Este ano eu comi direitinho. Quando eu era pequena, receava dizer isso com medo que você descobrisse que estava mentindo. Mas num lar judeu com Natal, algumas licenças devem ser permitidas.
Na verdade, este ano também bebi bastante vinho, exagerei no café e não estudei nadinha, mas vou utilizar os meus créditos como esposa prendada e trabalhadora responsável para desconsiderar estes abusos.

O sr. lembra quando éramos pequenas e meu avô usava uma fantasia sua? Talvez o sr. achasse alguns defeitos na atuação, mas nós a achávamos perfeita. Ele chegava com seu saco de presentes e nós, além de sentarmos no colo do papai Noel, podíamos ficar acordadas até tarde.
Eu lembro de tudo como se fosse ontem. Talvez pelos filmes de infância, onde nós, as crianças, tinhamos os olhos brilhando e os pais, longos ataques de risos.
Sei que o sr. tem muitas crianças na cabeça e talvez não lembre destes fatos, mas a minha era aquela casa com árvore de Chanuká, lembra? Dúvido que tivesse outra.

Uma vez ganhei um bercinho de boneca muito grande. Eu tinha muitos 'filhos' naquela época e o presente veio bem a calhar. Minha irmã adorou e colocou os dela para dormir lá também. Tinha até o bebê 'calunga' como o faxineiro Raimundo do prédio chamava, enquanto a cozinheira de casa fazia 'arroizi' e nós brincávamos no térreo. Mas este é outro assunto, da nossa alfabetização paulistês e nordestês, onde não vou me 'adelongar'.

Papai Noel, muito tempo se passou e a saudade daqueles tempos é grande.
Se o sr. chegou até aqui é porque considera na sua listinha os maiores de 18 anos. Ou talvez porque minha carta tenha chegado diretamente em suas mãos e não na dos duendes, que como ficam com o trabalho pesado, fazem leitura dinâmica das cartas e deixam passar detalhes preciosos.

Enfim, aqui está tudo correndo bem, sabe, como diria o Chico, pela Terra estão jogando futebol, tem muito samba, muito show de rock´roll. Se possível, gostaria de pedir para o sr. dar uma passadinha aqui em cima no dia 24/12, para matarmos saudades. Até pediria para o sr. jogar um pozinho de pirlimpimpim, mas aí eu já pareceria louca. Ou saudosa demais.

Beijos, Nurit

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Hoje no Yoga ou 'preparatório para a olimpíada Gandhi 2010'

Pé direito na virilha, joelho para baixo, braço direito por trás das costas e mão segurando o pé. Inspira. Expira e desce com a mão esquerda até o chão. E...

(e aqui começa o intensivo, numa nova função matemática onde 5 equivale a 25)

"Uuuuuuuuuuuuuuuuuuuummmmmmmmmmmmmmm. Respira. Dooooooooooooooooooooooooooiiiiiiiiiiisssssss.
Issooooooooooooooooooooo.
Trêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêêssssssssssssss.
Atenção nos Bandhas.
Quaaaaaaaaaaaaaaaaaaatrooooooooooooo. Respira.
Quatroooooooooooooooooooooooooooo.
Ciiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiinncooooooooooooooooo".

O resultado? Vocês já suaram no dedinho dos pés?



Créditos: mas que eu amo e finalmente me encontrei no quesito 'atividade física', isso é verdade. Além do plus do bem-estar mental, que para uma pessoa 'Prozac' como eu, vem bem a calhar.

terça-feira, 2 de outubro de 2007

E para quem não conhece: O Manifesto das pantufas!

DESABAFO DE UMA MULHER MODERNA - CRÔNICA



"São 7h. O despertador canta de galo e eu não tenho forças nem para atirá-lo contra a parede. Estou tão cansada, não queria ter que trabalhar hoje. Quero ficar em casa, cozinhando, ouvindo música, cantarolando, até. Se tivesse filhos, gastaria a manhã brincando com eles, se tivesse cachorro , passeando pelas redondezas.
Aquário? Olhando os peixinhos nadarem.
Espaço? Fazendo alongamento.
Leite condensado? Brigadeiro...
Tudo menos sair da cama, engatar uma primeira e colocar o cérebro pra funcionar. Gostaria de saber quem foi a mentecapta, a matriz das feministas que teve a infeliz idéia de reivindicar direitos à mulher e por que ela fez isso conosco, que nascemos depois dela.
Estava tudo tão bom no tempo das nossas avós, elas passavam o dia a bordar, trocar receitas com as amigas, ensinando-se mutuamente segredos de molhos e temperos, de remédios caseiros, lendo bons livros das bibliotecas dos maridos, decorando a casa, podando árvores, plantando flores, colhendo legumes das hortas, educando as crianças, freqüentando saraus, a vida era um grande curso de artesanato, medicina alternativa e culinária.
Aí vem uma fulaninha qualquer que não gostava de sutiã nem de espartilho e contamina várias outras rebeldes inconseqüentes com idéias mirabolantes sobre "vamos conquistar o nosso espaço". Que espaço, minha filha? Você já tinha a casa inteira, o bairro todo, o mundo ao seus pés.
Detinha o domínio completo sobre os homens, eles dependiam de você para comer, vestir e se exibir para os amigos, que raio de direitos requerer? Agora eles estão aí, todos confusos, não sabem mais que papéis desempenhar na sociedade, fugindo de nós como o diabo foge da cruz. Essa brincadeira de vocês acabou é nos enchendo de deveres, isso sim. E nos lançando no calabouço da solteirice aguda.
Antigamente, os casamentos duravam para sempre, tripla jornada era coisa do Bernard do vôlei - e olhe lá, porque naquela época não existia Bernard do vôlei. Por quê, me digam por quê um sexo que tinha tudo do bom e do melhor, que só precisava ser frágil, foi se meter a competir com o macharedo?
Olha o tamanho do bíceps deles, e olha o tamanho do nosso. Tava na cara que isso não ia dar certo.
Não agüento mais ser obrigada ao ritual diário de fazer escova, maquiar, passar hidratantes, escolher que roupa vestir e que sapatos usar. Que perfume combina com meu humor, nem de ter que sair correndo, ficar engarrafada, correr risco de
ser assaltada, de morrer atropelada, passar o dia ereta na frente do computador, com o telefone no ouvido, resolvendo problemas.
Somos fiscalizadas e cobradas por nós mesmas a estar sempre em forma, sem estrias, depiladas, sorridentes, cheirosas, unhas feitas, sem falar no currículo impecável, recheado de mestrados, doutorados e especializações (uffffffffff!!!!!!!)...
Viramos super mulheres, continuamos a ganhar menos do que eles. Não era muito melhor ter ficado fazendo tricô na cadeira de balanço?
Chega, eu quero alguém que pague as minhas contas, abra a porta para eu passar, puxe a cadeira para eu sentar, me mande flores com cartões cheios de poesia, faça serenatas na minha janela (ai, meu Deus, já são 7:30h, tenho que levantar!) e tem mais, que chegue do trabalho, sente no meu sofá, coloque os pés
pra cima e diga "meu bem, me traz uma dose de uisque, por favor?". Descobri que nasci para servir.
Vocês pensam que eu to ironizando? To falando sério! Estou abdicando do meu posto de mulher moderna.... Troco pelo de Amélia. Alguém se habilita?"
(Autora Desconhecida)

sábado, 18 de agosto de 2007

(...)«salsinha» é só salsa picada ou um nome genérico para tudo que num prato é puro adorno. (...) Os defensores da salsinha dizem que ela só existe para bonito, o que só confirma nossa posição: o enfeite não serve para nada e rouba espaço da comida. Mas na cozinha mais preocupada com estética do mundo, a japonesa, é raro se ver salsinha. Você encontra pássaros diáfanos feitos de nabo ou pagodes de gengibre na beira dos pratos, é verdade, mas aí não é mais salsinha. Aí é filosofia.

Luís Fernando Veríssimo

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Heroínas modernas

Faz um tempo, ganhei da um livro fofésimo da Chris Campos, chamado 'Casa da Chris'.
Perfeito para nós, amélias modernas, que ao contrário de nossas compatriotas venusianas feministas, vibramos com uma batedeira cheia de funções ou um pano de prato novo.

Quando eu era pequena, meu avô nos levava - eu, minha irmã e minhas primas - para escolher o presente que quiséssemos na DB Brinquedos (quem lembra?), no aniversário de cada uma de nós. O que quiséssemos! E isso para uma criança é a verdadeira apoteose.
Geralmente eu queria a batedeira, o fogãozinho ou a chocolateria, para surpresa das outras crianças presentes, que geralmente optavam pela Barbie ou por algum bichinho de pelúcia bastante fofinho.

Aos 12 anos, meu sonho era fazer um curso de culinária. Fiz, na Wilma Kovesi, o intensivão de microondas, já que ainda não podia usar o fogão. Amei de paixão, apesar de hoje ter bastante aversão a usar o coitadinho, a não ser para esquentar comida ou fazer pipoca de saquinho.

Desde pequena tenho aptidão a amélia, mas devido à geração em que nasci, virei amélia moderna. Isso significa que, além de não usar laquê, tenho que dividir algumas funções e não posso me dedicar exclusivamente ao meu lar doce lar. De vez em quando ele fica uma zona. De vez em quando o sapato está no meio da sala e a pia cheia de louça. De vez em quando não tem um doce no final de semana e de vez em quando, não tem cheirinho de refogado na hora do jantar.


Mas apesar de tudo isso, me dá um tremendo prazer cozinhar para o marido (vovó já dizia que homem se segura pelo estômago...será?), deixar a geladeira cheia de 'gostosisses' quando vem visita, usar um avental fofo e ter uma gaveta completamente cheia de utensílios de cozinha - de cortador de bolacha em forma de coração a ralador de noz moscada. Me dá prazer olhar para minha coleção infinita de livros de receitas e para meus panos de prato coloridos, meticulosamente dobrados na gaveta. Cuidar para ter sempre uma flor nova no terraço, spray de canela no criado-mudo e velinhas perfumadas para jantares especiais.
E principalmente, jamais usar cebola ou alho prontos, daqueles potinhos insonsos que encontramos no supermercado.... Nada substitui o cheirinho de um refogado fresquinho.

E assim somos nós, heroínas dos lares modernos, que encontramos tempo para tudo e mais um pouquinho, mas nos sentimos sempre um tantinho culpadas por não ter dado tempo de fazer ainda mais um pouquinho. Uma comidinha mais elaborada, uma atenção a mais pro marido, uma visita para aquele cliente... ou até levar para a lavanderia aquela gravata que está fazendo aniversário no banco de trás do seu carro.

Nunca dá tempo de fazer tudo e por isso, o negócio é relaxar. Assim, compartilho com vocês, bem ao estilo heroína moderna, este trechinho delicioso do livro da Chris, que citei no começo do post:
"... Outro dia fiz as contas e notei que as minhas heroínas nunca precisaram ostentar cintos de verdade amarrados na cintura. Muito menos pilotar aviões transparentes ou rodopiar para se transformar em seres superpoderosos. Elas são capazes de vencer suas batalhas munidas de artefatos tão prosaicos quanto uma colher de pau ou um avental dupla face (para não molhar a barriga na pia). Pilotam carrinhos de feira sem provocar acidentes. E lançam mão de truques valiosos na hora de confeitar bolos lindos, temperar bifes maravilhosamente bem, escolher frutas sem correr o risco de serem embromadas pelo feirante...
E quer saber? Aposto que a Mulher Maravilha adoraria participar e um workshop com pelo menos uma delas. Para ver se consegue manter seus superpoderes também no mundo real."
Chris Campos
Viu só? Mulheres maravilha da vida real: ativem seus superpoderes e cuidado para não tropeçar no salto!

sexta-feira, 13 de julho de 2007

O bom de toda sexta-feira 13 é o fato do dia seguinte ser invariavelmente sábado!

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Ensaio sobre a rotina

Amélia era moça direita, assim bem bela
Prestimosa, fazia as tarefas e até bolo de canela
Elegante, estudiosa e polida era ela
Moça direita, prometida a Paulo Nozella
Este sim, o sonho de qualquer donzela
Sua mãe sentia grande orgulho dela, sua bela Amélia

Até que Amélia, esta bela e jovem donzela
Curiosa sobre a vida ao redor dela
Cansada de cerzir flanela
E de rimas banais sobre ela
Resolveu fugir de casa

Na primeira esquina, conheceu Carlão
Jovem assim, sem classe e sem rima
Barba mal feita e bafo de cerveja
Homem sem estudo, homem do mundo
E ela se apaixonou

Esta vida de desregrada aventura
Cheia de gente impulsiva e sem ternura
Encantou a jovem Amélia
Que conheceu da maconha à pamonha
Do pompoarismo ao populismo
Da balada GLS às moças sem catequese

Até que um dia, Amélia acordou vazia
Carlão dormia ao lado, chapado de ácido
E a novidade já não a divertia
Ela tinha saudade da vida que tinha
Concluiu que rima por rima, ficava com a rima antiga
E que licença poética repetida é pleonasmo na poesia

E assim Amélia voltou pra casa dela
Casou com o Nozella e usou lingerie amarela
Fazia pudim de Nutella e bolo de moela
E se não viveu feliz para sempre, viveu feliz com a vida dela.

sábado, 21 de abril de 2007

Quase tudo. Ou muita coisa

Sei que você gostaria de ter os cabelos escorridos da sua mãe. Sei que às vezes chora em silêncio, para lavar a alma. Sei que se orgulha de suas unhas, compridas e fortes e que adora pintá-las de vermelho. Sei que ama tudo que é feminino, do seu vestido rosa aos perfumes de flores brancas. Sei que tem um sonho contido em ser grande, pioneira e desbravadora em algo que ainda não sabe o que. Que é segura quando parece feita de açúcar. Mas que também é insegura. Sei que sonha alto e é louca por uma taça de vinho tinto. Sei que adora dormir com os cabelos molhados e que tem pesadelos quando dorme sem meias. Sei que não toma banho de banheira para que seus dedos não fiquem enrugados. Sei que odeia errar uma receita. Sei que odeia errar. Sei que acredita em banhos de sal grosso e rezas em ladino. Sei que sente necessidade de desabafar e que derrama lágrimas contidas por seu trauma. Sei que prefere lapiseiras a lápis e que detesta quando explicam seu pavor de cobras como fálico. Sei que fica introspectiva ao entardecer. Sei que é louca por cheiro de inverno, banho quente e esfoliantes a base de açúcar. Sei que odeia quando falam com você enquanto penteia seus cabelos. Se que gostaria que sua casa cheirasse a lavanda. Sei que não gosta de ovos no café-da-manhã e que não vive sem caldo de carne. Sei que é curiosa. Sei que você também acha que sempre foi séria. Sei que você adora pão de queijo cru, cheiro de alho refogado e sopa de cebola gratinada.
Mas sei acima de tudo, que isso ainda não é tudo.

Inspirado no livro fofo, fofo, fofo Papel Manteiga - para embrulhar segredos.

quarta-feira, 14 de março de 2007

Relato de uma mulher moderna

Amo ser uma senhora casada. Compartilhar minha vida e ter alguém que esquente meus pés à noite é delicioso, mas preciso citar as mudanças na vida de uma mulher quando ela sai da casa da mamãe e passa a (tentar) administrar a sua própria, intitulando-se mulher-profissional-dona-de-casa-esposa moderna. Ufa.

Antes, minha vida resumia-se a acordar, tomar o café que já estava na mesa, sair para trabalhar, voltar, tomar um banho quente e tranqüilo, jantar a comida que já estava na mesa e depois ver televisão, entrar na internet, bater um despretencioso papo ou até, uma petit balada. Queridas amigas solteiras: aproveitem.

Quando se casa, você passa a desejar que seus dias tenham 48 horas. Hoje por exemplo, acordei, arrumei a cama e fiz uma make-up básica e rápida (sou uma mulher moderna, afinal de contas). Rápida porque tinha que pensar na carne que descongelaria para o jantar. Frango com cebolas. Perfeito. Tomo o café da manhã que não estava na mesa, saio correndo e esqueço 50% da papelada que tinha que carregar comigo. Volto e pego (detalhe: minha casa tem 5 chaves). Já atrasada, faço tudo correndo, resolvo mil pepinos, me irrito com algumas gauchices e outras cositas de trabalho. Hummm, 40 minutos entre uma reunião e outra? Supermercado para suprir o vazio interior da geladeira. Pego o carrinho e saio correndo como uma louca, quase atropelando as madames que fazem supermercado por 2 horas, saltitantes entre as gôndolas, no meio da tarde. Check list: tomate, alface, Yakult, pão de queijo, carne moída, blá, blá, blá. Ok. Pago. Putz, faltam 20 minutos para a próxima reunião. Vôo para casa (agradecendo morar numa cidade sem trânsito), calculando os 7 minutos que teria para guardar tudo e sair correndo. Marisa Monte tocando no CD do carro ("...as pessoas na sala de jantar..."). Chego em casa e o prato do almoço do meu marido sobre a bancada - leia-se, fora da pia e repleto de formigas irritantemente minúsculas, nojentas, famintas e inconvenientes. Atitude prática de mulher moderna: começo a chorar. Um choro rápido, pois tenho 5 minutos para lavar a louça e retocar a maquiagem. Guardo somente as compras de geladeira e deixo o restante pela cozinha. Arrumo à noite. Reunião com cafezinho, calma e confiante, linda e plena como se nada mais estivesse acontecendo. Faxineira liga pedindo se você pode adiantar R$100,00 na sexta-feira. Claro, afinal é ela quem manda em você. Termina o dia, você suada, melada num calor de 30º. Volta pra casa. Banho? Só se quiser ficar cheirando a fritura do jantar. Frango com cebola. Avental e vodka (afinal de contas, sou uma mulher moderna). O trabalho continua até às 22h. Banho quente e vamos lá que agora entra a Nurit esposa, linda, sexy, detonada e exausta (que tempo eu vou ter para os meus filhos, que tempo)?

...mas pelo menos tenho alguém para esquentar meus pés à noite. E isso vale tudo.