quinta-feira, 26 de julho de 2007

Heroínas modernas

Faz um tempo, ganhei da um livro fofésimo da Chris Campos, chamado 'Casa da Chris'.
Perfeito para nós, amélias modernas, que ao contrário de nossas compatriotas venusianas feministas, vibramos com uma batedeira cheia de funções ou um pano de prato novo.

Quando eu era pequena, meu avô nos levava - eu, minha irmã e minhas primas - para escolher o presente que quiséssemos na DB Brinquedos (quem lembra?), no aniversário de cada uma de nós. O que quiséssemos! E isso para uma criança é a verdadeira apoteose.
Geralmente eu queria a batedeira, o fogãozinho ou a chocolateria, para surpresa das outras crianças presentes, que geralmente optavam pela Barbie ou por algum bichinho de pelúcia bastante fofinho.

Aos 12 anos, meu sonho era fazer um curso de culinária. Fiz, na Wilma Kovesi, o intensivão de microondas, já que ainda não podia usar o fogão. Amei de paixão, apesar de hoje ter bastante aversão a usar o coitadinho, a não ser para esquentar comida ou fazer pipoca de saquinho.

Desde pequena tenho aptidão a amélia, mas devido à geração em que nasci, virei amélia moderna. Isso significa que, além de não usar laquê, tenho que dividir algumas funções e não posso me dedicar exclusivamente ao meu lar doce lar. De vez em quando ele fica uma zona. De vez em quando o sapato está no meio da sala e a pia cheia de louça. De vez em quando não tem um doce no final de semana e de vez em quando, não tem cheirinho de refogado na hora do jantar.


Mas apesar de tudo isso, me dá um tremendo prazer cozinhar para o marido (vovó já dizia que homem se segura pelo estômago...será?), deixar a geladeira cheia de 'gostosisses' quando vem visita, usar um avental fofo e ter uma gaveta completamente cheia de utensílios de cozinha - de cortador de bolacha em forma de coração a ralador de noz moscada. Me dá prazer olhar para minha coleção infinita de livros de receitas e para meus panos de prato coloridos, meticulosamente dobrados na gaveta. Cuidar para ter sempre uma flor nova no terraço, spray de canela no criado-mudo e velinhas perfumadas para jantares especiais.
E principalmente, jamais usar cebola ou alho prontos, daqueles potinhos insonsos que encontramos no supermercado.... Nada substitui o cheirinho de um refogado fresquinho.

E assim somos nós, heroínas dos lares modernos, que encontramos tempo para tudo e mais um pouquinho, mas nos sentimos sempre um tantinho culpadas por não ter dado tempo de fazer ainda mais um pouquinho. Uma comidinha mais elaborada, uma atenção a mais pro marido, uma visita para aquele cliente... ou até levar para a lavanderia aquela gravata que está fazendo aniversário no banco de trás do seu carro.

Nunca dá tempo de fazer tudo e por isso, o negócio é relaxar. Assim, compartilho com vocês, bem ao estilo heroína moderna, este trechinho delicioso do livro da Chris, que citei no começo do post:
"... Outro dia fiz as contas e notei que as minhas heroínas nunca precisaram ostentar cintos de verdade amarrados na cintura. Muito menos pilotar aviões transparentes ou rodopiar para se transformar em seres superpoderosos. Elas são capazes de vencer suas batalhas munidas de artefatos tão prosaicos quanto uma colher de pau ou um avental dupla face (para não molhar a barriga na pia). Pilotam carrinhos de feira sem provocar acidentes. E lançam mão de truques valiosos na hora de confeitar bolos lindos, temperar bifes maravilhosamente bem, escolher frutas sem correr o risco de serem embromadas pelo feirante...
E quer saber? Aposto que a Mulher Maravilha adoraria participar e um workshop com pelo menos uma delas. Para ver se consegue manter seus superpoderes também no mundo real."
Chris Campos
Viu só? Mulheres maravilha da vida real: ativem seus superpoderes e cuidado para não tropeçar no salto!

sexta-feira, 13 de julho de 2007

O bom de toda sexta-feira 13 é o fato do dia seguinte ser invariavelmente sábado!

quarta-feira, 11 de julho de 2007

Ensaio sobre a rotina

Amélia era moça direita, assim bem bela
Prestimosa, fazia as tarefas e até bolo de canela
Elegante, estudiosa e polida era ela
Moça direita, prometida a Paulo Nozella
Este sim, o sonho de qualquer donzela
Sua mãe sentia grande orgulho dela, sua bela Amélia

Até que Amélia, esta bela e jovem donzela
Curiosa sobre a vida ao redor dela
Cansada de cerzir flanela
E de rimas banais sobre ela
Resolveu fugir de casa

Na primeira esquina, conheceu Carlão
Jovem assim, sem classe e sem rima
Barba mal feita e bafo de cerveja
Homem sem estudo, homem do mundo
E ela se apaixonou

Esta vida de desregrada aventura
Cheia de gente impulsiva e sem ternura
Encantou a jovem Amélia
Que conheceu da maconha à pamonha
Do pompoarismo ao populismo
Da balada GLS às moças sem catequese

Até que um dia, Amélia acordou vazia
Carlão dormia ao lado, chapado de ácido
E a novidade já não a divertia
Ela tinha saudade da vida que tinha
Concluiu que rima por rima, ficava com a rima antiga
E que licença poética repetida é pleonasmo na poesia

E assim Amélia voltou pra casa dela
Casou com o Nozella e usou lingerie amarela
Fazia pudim de Nutella e bolo de moela
E se não viveu feliz para sempre, viveu feliz com a vida dela.