quarta-feira, 14 de março de 2007

Relato de uma mulher moderna

Amo ser uma senhora casada. Compartilhar minha vida e ter alguém que esquente meus pés à noite é delicioso, mas preciso citar as mudanças na vida de uma mulher quando ela sai da casa da mamãe e passa a (tentar) administrar a sua própria, intitulando-se mulher-profissional-dona-de-casa-esposa moderna. Ufa.

Antes, minha vida resumia-se a acordar, tomar o café que já estava na mesa, sair para trabalhar, voltar, tomar um banho quente e tranqüilo, jantar a comida que já estava na mesa e depois ver televisão, entrar na internet, bater um despretencioso papo ou até, uma petit balada. Queridas amigas solteiras: aproveitem.

Quando se casa, você passa a desejar que seus dias tenham 48 horas. Hoje por exemplo, acordei, arrumei a cama e fiz uma make-up básica e rápida (sou uma mulher moderna, afinal de contas). Rápida porque tinha que pensar na carne que descongelaria para o jantar. Frango com cebolas. Perfeito. Tomo o café da manhã que não estava na mesa, saio correndo e esqueço 50% da papelada que tinha que carregar comigo. Volto e pego (detalhe: minha casa tem 5 chaves). Já atrasada, faço tudo correndo, resolvo mil pepinos, me irrito com algumas gauchices e outras cositas de trabalho. Hummm, 40 minutos entre uma reunião e outra? Supermercado para suprir o vazio interior da geladeira. Pego o carrinho e saio correndo como uma louca, quase atropelando as madames que fazem supermercado por 2 horas, saltitantes entre as gôndolas, no meio da tarde. Check list: tomate, alface, Yakult, pão de queijo, carne moída, blá, blá, blá. Ok. Pago. Putz, faltam 20 minutos para a próxima reunião. Vôo para casa (agradecendo morar numa cidade sem trânsito), calculando os 7 minutos que teria para guardar tudo e sair correndo. Marisa Monte tocando no CD do carro ("...as pessoas na sala de jantar..."). Chego em casa e o prato do almoço do meu marido sobre a bancada - leia-se, fora da pia e repleto de formigas irritantemente minúsculas, nojentas, famintas e inconvenientes. Atitude prática de mulher moderna: começo a chorar. Um choro rápido, pois tenho 5 minutos para lavar a louça e retocar a maquiagem. Guardo somente as compras de geladeira e deixo o restante pela cozinha. Arrumo à noite. Reunião com cafezinho, calma e confiante, linda e plena como se nada mais estivesse acontecendo. Faxineira liga pedindo se você pode adiantar R$100,00 na sexta-feira. Claro, afinal é ela quem manda em você. Termina o dia, você suada, melada num calor de 30º. Volta pra casa. Banho? Só se quiser ficar cheirando a fritura do jantar. Frango com cebola. Avental e vodka (afinal de contas, sou uma mulher moderna). O trabalho continua até às 22h. Banho quente e vamos lá que agora entra a Nurit esposa, linda, sexy, detonada e exausta (que tempo eu vou ter para os meus filhos, que tempo)?

...mas pelo menos tenho alguém para esquentar meus pés à noite. E isso vale tudo.