sexta-feira, 29 de março de 2013

Recém


Recém-casada. Todo mundo comentando como este início é delicioso, cheio de paixão, plenitude e alegria e você lá, pensando que raios está fazendo com um homem vinteequatro horas ao seu lado, num apartamento que, apesar de arrumadinho, não é seu lar de jeito nenhum.
Porque convenhamos, é uma delícia não ter que dar beijo de tchau ao final do domingo ou planejar todo fim de semana onde vocês passarão a noite. Mas segunda-feira costumava ser um dia perfeito para chegar do trabalho, vestir as pantufas e jantar no quarto assistindo a um seriado da Sony. Ou então usar o computador até quando você bem entendesse ou qualquer coisa que desse na telha sem ter que preocupar-se com ninguém mais. Mas agora você tem. E além de dividir seu tempo de dolce far niente, vocês dividem assuntos romanticíssimos como "quem vai pagar a conta de luz", "quem vai na reunião de condomínio" ou "pede pra faxineira passar melhor a minha camisa".
E daí? Daí você sobrevive ao primeiro ano e entra no segundo. Agora sim, cheio paixão, plenitude, alegria e realidade.
Como seria bom se todas as expectativas e promessas fossem dosadas com conselhos verdadeiros. Tenho certeza de que, com exceção do episódio da conta de luz, até a Cinderela sentiu-se assim.
E então, quando tudo está nos eixos, vocês resolvem que é hora de aumentar a família.
E vem a gravidez, o parto, conhecer seu bebê... momentos plenos. Até você chegar em casa onde não tem nenhum botão para chamar enfermeira alguma.
É claro que existem mães com síndrome de Mary Poppins, que realizam-se acordando de duas em duas horas durante a madrugada. Eu quase enlouqueci. Eu e uma série de mães cheias de culpa por não estarem saltitando quando suas vidas viraram de cabeça para baixo, quando tomar um banho ininterrupto ou conseguir tirar o pijama antes das três da tarde tornam-se os pontos altos do seu dia. Claro que você ama aquele mini serzinho, mas este amor ficará absurdamente intenso, incondicional e espetacular após alguns meses. Mães sem síndrome de Mary Poppins estipulam três meses.
E nossa culpa por não estarmos plenas nos momentos "recém" só aumenta com a enxurrada de comentários derivados do "aproveite, esta é a melhor fase da sua vida".
Melhor fase é quando a gente acostuma-se com o novo. E com os novos que realmente importam nessa vida.
Mas acredite, quando você se acostumar, nada - NADA - te fará mais feliz.

(para você, você sabe quem)

sexta-feira, 15 de março de 2013

Num café-escritório qualquer

Faz oito anos que abri mão de trabalhar trancada em uma sala. Uma série de motivos me levaram a tomar essa decisão e, apesar da segurança do dinheiro na conta todo dia cinco, minha qualidade de vida mudou completamente.
Não sei por que raios, janelas amplas e arejadas nunca foram pontos fortes das empresas por onde passei e, talvez por isso, valorize tanto passar o dia ao ar livre. Além de ver o dia de cabo a rabo, de sentir o sol, o vento e - fazer o que - a chuva, adoro meus cafés-escritório, lugares que escolhi para trabalhar, pagando o aluguel em espressos e pães de queijo.
E de tudo, o que mais me fascina, é ter colegas de trabalho novos todos os dias. Gente que senta ao lado para trabalhar, conversar, almoçar ou discutir a relação. Não nego: às vezes finjo estar concentrada numa planilha, somente para lançar minha atenção ao lado. Já escutei senhoras falando de sexo, fazendeiros sobre cifras, noivas planejando casamentos nada modestos e até uma pastora reclamando do pai castrador (na realidade, este último passa-se no exato instante em que escrevo este post).
Talvez seja indiscrição, mas as pessoas falam alto mesmo, às vezes embaladas por jarras de clericot às três da tarde. Mas sabe o que? Ver a diversidade me inspira. Não que eu não julgue, sou humana. E mulher. Mas às vezes, em horário comercial, ficamos tão centrados no nosso mundinho, falando somente sobre os mesmos assuntos e conversando com as mesmas pessoas, que um sopro de vidadooutro deixa o dia mais leve.
Então, antes de voltar aos e-mails, vou escutar como termina a história da pastora e pedir mais um espresso. Ou quem sabe, um clericot.